Trabalhando em ciclos: a força (e o desafio) de ser mulher no ambiente corporativo
- Paola Vitalino
- 16 de jun.
- 3 min de leitura
Ao longo da minha carreira como psicóloga, já ouvi muitos relatos mais ou menos assim:
"Tem semanas que eu me sinto brilhante, produtiva, com vontade de abraçar o mundo. Duas semanas depois, mal consigo sair da cama, sem vontade de chorar ou jogar tudo pro alto. E olha que tá tudo certo no trabalho, na família... sou eu que não tô me reconhecendo mais."
Claro que os relatos não vinham prontos assim. Foi ao longo do processo terapêutico que fomos construindo essa compreensão. Mas por que isso importa?
Porque essa é uma mulher que não fazia ideia do que estava acontecendo com ela. E ela não está sozinha.
No meio de reuniões, metas, entregas e café requentado, muitas mulheres sentem que a mente não acompanha a exigência do ambiente corporativo. Mas, em muitos casos, não é estresse nem desorganização. É o corpo falando. E o ciclo menstrual, a perimenopausa e a menopausa têm muito a dizer.
Se você é uma mulher no mundo corporativo e já se perguntou por que suas emoções, energia e foco parecem andar de montanha-russa, este texto é pra você.
Ciclos hormonais não são “drama”, são estrutura.
No ambiente corporativo, espera-se das mulheres estabilidade emocional, foco constante e alta produtividade. O problema é que o corpo feminino não funciona em linha reta. Ciclos hormonais naturais afetam diretamente o funcionamento do cérebro, a regulação emocional e o desempenho cognitivo. E não estamos falando de algo pontual: esses ciclos estão presentes todos os meses (no caso da menstruação) e por décadas (no caso da perimenopausa e menopausa).
Ignorar esses processos é não apenas um erro de gestão de saúde, mas também uma falha estratégica no cuidado com a produtividade feminina.
A seguir, entenda como essas três fases impactam o funcionamento psicológico da mulher e por que precisamos falar sobre isso com mais naturalidade nas empresas.
1. Fase menstrual: mais do que cólica e TPM, uma oscilação emocional legítima
A fase menstrual é marcada pela queda brusca de estrogênio e progesterona, o que impacta neurotransmissores ligados ao humor, como a serotonina. A mulher pode apresentar:
Cansaço intenso
Irritabilidade
Sensação de baixa autoestima
Dificuldade de concentração
Maior sensibilidade emocional
Embora o estigma da "TPM" ainda seja comum, a verdade é que o cérebro está em um momento de reorganização interna. Com suporte adequado, essa fase pode ser propícia para tarefas de análise crítica, revisão e tomada de decisões estratégicas — desde que haja espaço para pausas e acolhimento.
2. Perimenopausa: a fase instável que ninguém te ensinou a reconhecer
A perimenopausa pode durar de 4 a 10 anos antes da menopausa, geralmente começando por volta dos 35 a 45 anos. O ciclo ainda existe, mas os hormônios se tornam imprevisíveis, afetando profundamente o funcionamento mental e emocional da mulher.
Efeitos psicológicos comuns:
Ansiedade repentina
Oscilações de humor
Dificuldades cognitivas (atenção, memória, tomada de decisão)
Queda de motivação e confusão mental
Insônia (com impacto direto no desempenho)
Essas mudanças muitas vezes são confundidas com "estresse crônico" ou "crise pessoal". Mas, na maioria das vezes, trata-se de um processo neuroendócrino natural. A mulher se cobra, esconde os sintomas, se culpa e o risco de burnout cresce silenciosamente.
3. Menopausa: quando o ciclo encerra, mas o cérebro ainda precisa de tempo
A menopausa, que acontece em média por volta dos 50 anos, marca o fim da fase reprodutiva. A produção hormonal estabiliza em níveis mais baixos, e isso afeta diretamente o equilíbrio emocional.
Efeitos comuns:
Apatia ou tristeza sem causa aparente
Dificuldades de memória e foco
Queda na autoconfiança
Revisão de propósito e identidade profissional
Aumento da vulnerabilidade emocional diante de críticas e cobranças
O ambiente de trabalho costuma ignorar ou minimizar essa fase (o que gera silêncio, isolamento e insegurança). Mas, quando bem acompanhada, a menopausa pode ser um ponto de virada poderoso, onde a mulher redefine sua trajetória com maturidade emocional e visão estratégica.
O corpo feminino não é obstáculo, é bússola!
A mulher que trabalha e sente os efeitos dos seus ciclos não está desorganizada, desmotivada ou desequilibrada. Ela está em transformação constante (e isso exige compreensão, tanto interna quanto institucional).
Valorizar esse conhecimento é valorizar a saúde, a longevidade e a produtividade das mulheres que sustentam boa parte das estruturas do mundo do trabalho.
Corpo e mente caminham juntos. E ignorar os sinais de um é o caminho mais rápido para adoecer o outro.
Se precisar entender melhor sua mente e corpo, conte comigo!
Psi Paola Vitalino
CRP 08/30509
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